Eu sempre fui uma menina magricela. Muito magricela. Até que como que com mágica minhas coxas engordaram para a surpresa da minha mãe e de toda a família. E eu acabei não gostando do que hormônios haviam feito com meu corpo por um bom tempo. A altura muito acima da média eu já não tinha o que fazer do que aceitar e enfrentar as outras meninas sobre eu não ter culpa delas serem baixas. Mas aquelas coxas...
O tempo passou e eu fiquei vestindo o numero 40 por muitos anos. Muitos anos mesmo: tenho calças de 2009 que até o ano passado ficavam até larguinhas. Mas apesar disso, eu ainda estou dentro dessa sociedade, ainda vejo tv, revistas, propagandas em todos lugares. Eu ainda me olho no espelho e penso "eu poderia emagrecer um pouco". Eu realmente tendo a abandonar essas ideias rapidamente já que sou uma preguiçosa e prática ( acredito que praticidade, conforto e preguiça são melhores amigas) e porque somente minha mãe pega um pouco no meu pé.
Mas cá estou eu pensando como estou gorda, desde que o 42 está apertado demais. Me sentindo um pouco mais horrível quanto a minha aparência. Achando que só ficaria bonita em tal roupa se eu emagrecesse. É horrível. E eu, que já tentei ser militante feminista, que prego ideias de ame seu corpo, não consigo me livrar disso.
Estar cursando um curso que tem moda também não ajuda. Qualquer aula, apesar de serem somente 2 ou 3 na grade, de moda logo fala sobre ser magra. Logo elogia tal pessoa magricela. Um dos elogios, que eu faço mais como comentário impressionado, é de uma mina da sala super magra mesmo depois de ter uma filhinha a menos de 2/3 anos atrás. Ou como a cintura de tal menina é super fina e isso é maravilhoso. Mas há uma certa educação e sororidade em não comentar se tal menina é gorda, ou acima do peso, ou se tem algum defeito. É claro que nos detalhes percebemos tudo no não dizer.
No final, não tem como escapar dessas coisas completamente. Num momento de baixa guarda, o pensamento aparece, um comentário não é ignorado e estou mau.
Esse é o mês de avaliações na faculdade. E estou seriamente preocupada com minhas notas. Confesso que não estudei para nenhuma das avaliações e preciso fazer um esforço bem grande para estudar para uma das matérias mais difficiles do currículo.
Acho que o fato que eu não estudo para uma prova que não seja o vestibular faz 4 anos contribui. Não que eu fosse de estudar para provas no ensino médio. Eu só prestava atenção nas aulas e as vezes revisa meio sem querer algum conteúdo em casa. Tipo quando eu não conseguia copiar toda a matéria da aula e tinha que terminar ou refazer em casa. Fora isso, nada. Minha nerdeza só era um mito que carrego até hoje.
Já procurei na internet sobre como estudar mas tudo o que eu acho é em inglês para escolas norte-americanas ou inglesas ou brasileiro escrevendo sobre vestibular em inglês. E aí eu fico confusa e desanimada ao final. Eu só quero estudar e tirar um ponto acima da média, só isso.
Por que as pessoas tem ás vezes uma aura tão pesada e vampiresca?
Essa frase eu tenho ouvido com frequência ultimamente. Estou conhecendo alguém que também tem interesse em trabalhar em algo que ela supõe que eu também tenho interesse e por algum motivo quando a pessoa olha para minha cara no meio de uma conversa trivial inicia " Não quero te desanimar mas..." e lá vem um tipo de sermão. Para mim. Pois claramente eu sou uma avoada que não tem noção de nada, apesar dela não me conhecer. E isso me irrita.
Irrita o fato que o "conselho desanimador" ser dado por pessoas que mal falaram comigo. Que não me deixaram me expressar por completo, que não tem ideia dos meus planos ou o fato que as vezes eu não tenho um, enfim desconhecidos. E como eu não quero ser grosseira, eu só concordo balançando a cabeça ou com um 'é..."
A última vez foi ontem durante uma oficina de fotografia, onde a palestrante me deu o conselho mas óbvio do mundo sobre como é muito difícil se destacar a menos que você tenha contatos ou tenha nascido em berço de ouro. E eu não soube o que falar de volta para ela, porque olha, principalmente no Brasil, isso é quase uma regra dentro da comunidade comercial-criativa.
Mas essas pessoas olham para mim e pensam que eu não sei no que estou me metendo. E estão certas. Mas eu sei algumas coisas sobre nossa sociedade. Além do mais é muito grosseiro esse tipo de conselho para desconhecidos ou recém conhecidos.
Eu ando me irritando porque ando ouvindo com muita frequência mas e as pessoas que levam a sério esses conselhos? Por que desanimar alguém que mal começou? Não acho que é seja com boas intenções. Me desculpe, mas não é. O que está por trás desses conselhos desanimadores é a crença que o outro não tem qualificações. É a prepotência. É um julgamento muito rápido com sentimento de pena.
Então eu peço que quem ler esse texto pense antes de começar essa frase "não quero te desanimar mas.." ou qualquer variante. Se conhece alguém novo, deixe a pessoa estar. Guarde seus conselhos para amigos ou conhecidos a mais tempo. Não para pessoas que mal conhece.
Outro dia, acho que domingo, eu resolvi reabrir minha página de fotografia. Aí procurando por ela, lembrei que deletei. Ok, fiz outra e dessa vez convidei todas as pessoas que tenho adicionadas no meu facebook ( me recuso a chamar de amigo), o que não é muito mas já alguma coisa. Entretanto, apesar de lutar arduamente contra o sentimento de vergonha e aquela coisa "a grama do vizinho é sempre mais verde", eles existem. E talvez sejam os culpados por evitar expor como fotografa.
Pois primeiro vamos encarar alguns fatos:
- Eu não tenho um portfólio de trabalhos.
O que eu tenho são fotos tiradas da minha família e amigos. - Eu não tenho um pós produção descente.
E pós produção é necessário para comercializar um trabalho. - As fotos que eu tenho nem são boas assim
- Além dos meus amigos mais ninguém me acha uma boa fotografa.
Eu sei que Tai e Gi consideram minhas fotos carregadas de sentimento e da minha personalidade mas para comercializar preciso de técnica e para fineart também. - Ok, para comercializar precisa de basicão e tá bom.
Com esse ato eu meio que estou me forçando a fazer algo e parar de só pensar e planejar mas fazer algo.
Eu amava Hey Arnold! para mim é um dos melhores desenhos já feitos. Gostava tanto que cheguei a adaptar alguns episódios para mini peças das aulas de artes na escola. Gostava tanto que já shippava sem saber o que era isso. Para mim a construção dos personagens é algo muito maduro. Há muitas séries para adultos que não tem personagens tão complexos e enredos tão bons como daquele desenho. Uma das personagens que mais chama atenção é Helga, a menina durona e má educada apaixonada - secretamente - por Arnold. Se numa primeira olhada ela é só era a menina macho que implicava com tudo, mais alguns minutos já mostram sua complexidade: seu lado sensível que toma forma de poemas para seu amor platônico que ela despreza.
Nós acabamos conhecendo Helga durante as temporadas. Sua família é bem real e 'tradicional classe média', uma crítica aos que defendem somente a 'família tradicional' já que Arnold é criado pelos avós em uma pensão e, ao contrário de Helga, é uma criança doce e bem educada. Apesar de ter mãe, pai e irmã Helga é fechada e agressiva e com o passar dos episódios descobrimos porque: seus pais são ausentes,o pai só pensa no trabalho e sua mãe parece sofrer de depressão e é incapaz de cuidar da casa e de Helga. Sua família a compara o tempo todo com Olga, irmã mais velha que recebe toda a atenção deles e ainda é considerada linda, popular e doce.
Helga é alguém neglicenciada pela própria família. Sensível demais ela cria um escudo onde não é importante que liguem para ela.As únicas pessoas que parecem notar que há nela algo escondido dentro daquela casca dura são seu professor, sua bff e sua irmã - mas somente após entrar na faculdade de pedagogia e aprender sobre crianças em casas desfuncionais - nem mesmo Arnold, o bondoso herói da série, é capaz de perceber a verdadeira personalidade de Helga. Ela não é desenhada como uma menina bonita: é mais alta, tem uma mono sobrancelha e um corte de cabelo esquisito. E é bully, agressiva apesar de muito inteligente e passa boa parte dos episódios arrumando briga com as pessoas.
Helga se tornou uma personagem bem popular. Ela não é a pessoa mais tranquila de se conviver ou adorável, mas é fácil se identificar com ela. Muito fácil. Não somente por não ser correspondida pelo garoto bonitinho e simpático da escola, talvez seja por sermos ignoradas, diminuídas, tidas como loucas quando não nos encaixamos dentro do padrão do que deveria ser uma garota. Comparadas sempre com outras garotas sem nunca reconhecerem as outras qualidades que nos destacam.
Eu não sei o que estou fazendo da vida. De verdade.
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